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Seguir, servir e testemunhar. Porque Ele cura.

É muito aquilo que se" aprende" acerca de Deus em 10 anos de vida comunitária em seminário. Outro tanto se descobre acerca Dele no seio da família e na vida partilhada com verdadeiros amigos. De todos estes que elenquei até aqui, de uma forma ou de outra, fui percebendo diferentes pontos de vista com que é possível olhar o mesmo Deus. Porém, uma das formas mais belas de O olhar, e que sempre me fascinou, foi quando me apresentaram este Deus-Trindade como Aquele que cura. Pode parecer demasiado "batida" esta ideia, mas se dermos conta da nossa "estranha forma de vida" e quisermos ser sinceros, daremos conta de que poucas vezes somos reconhecidos como filhos de um Deus curador.

Quando precisamos de curar alguém que está ferido, pelo menos naquele momento estamos a dar prioridade a esse alguém sobre nós mesmos. Com Deus, que intrinsecamente é Aquele que cura, passa-se o mesmo. Portanto, para Deus somos constantemente mais importantes que Ele próprio, porque Ele assim quer. Não faria sentido todo o sofrimento da cruz se não fosse para ser curado na ressurreição. Nem faria sentido se não fosse para nos dar a cura para as chagas que, pelo pecado, temos. Foi no meio de todos estes e tantos outros pensamentos que surgiu à minha frente o lema que escolhi.

Afinal de contas, o que é um diácono? (Pergunta que várias pessoas, nos últimos meses me têm feito). Os diáconos são aqueles que foram escolhidos para o serviço da Caridade aos mais frágeis da sociedade. É isso que significa para mim o ministério que agora abraço. Não deixo e nunca deixarei de ser o serrano Diogo Martinho. A diferença é que a partir de agora sou chamado a ser imagem deste Deus que cura, pondo os outros em primeiro plano, onde não devo estar eu. De qualquer das formas, se já estou no centro das atenções de Deus, torna-se pouco relevante ser eu o meu próprio centro de atenções. Basta olhar os lírios. Aceitar esta atitude de desprendimento é um duro desafio, contudo, a beleza que dessa aceitação pode transbordar encaminha e ajuda a encaminhar para Deus.

Não querendo perder esta linha de pensamento, mas falando concretamente do meu trajeto até aqui, posso afirmar, com toda a certeza, que a questão vocacional me era totalmente alheia antes de entrar para o seminário. Não pensava nisso, até porque nem sabia o que isso era. Mesmo depois de entrar para o 9º ano no Seminário Menor de Nossa Senhora de Lourdes em Resende demorei a pôr a mim próprio essa questão. Pelo menos seriamente. Importa dizer que não fui sequer eu que tomei a iniciativa de pedir muito a Nosso Senhor que me mostrasse o caminho. Coloquei sempre a bola do lado Dele... e Ele, como sempre faz, correspondeu. Correspondeu essencialmente com exemplos de pessoas completamente esvaziadas de si e cheias de Dele (que, por sua vez, as torna mais elas próprias) que me fizeram, numa primeira fase, aceitar a ideia de que o caminho era por aqui - entenda-se, pelo Sacramento da Ordem. Aceitei, portanto, a hipótese de que talvez Deus me quisesse mesmo a caminhar para ministro ordenado. Não foram os discursos iluminados, as teorias dos filósofos, um sonho, uma qualquer voz misteriosa, um filme ou livro eloquente ou outra coisa qualquer que me despertou a Sede de Deus. O que me fez e faz querer entregar totalmente a este Deus de Jesus Cristo? Dar-me conta que a dada altura estou a pensar: “preciso de entender e percorrer o caminho que alguém percorre, até chegar ao ponto de não se interessar pela própria vida, apenas para O poder servir, apenas para O poder testemunhar.” Isto faz-me concluir, como S. Pedro (padroeiro da minha Paróquia Natal: Gosende) que, com toda a certeza do mundo só Ele pode ter palavras de vida eterna. A quem hei-de, então, seguir?

Em tudo isto há responsáveis diretos. São-no os superiores que me foram encarrilhando no seminário, a quem agradeço a paciência; as comunidades que, diligentemente, me foram acolhendo e seus respetivos párocos, a quem agradeço a generosidade e testemunho de Povo à escuta; os bons colegas e amigos a quem agradeço a Verdade; por fim, a família, a quem agradeço tudo o que agradeci atrás, mas mais uma coisa: a vida. A vida que permitiram e quiseram e à qual todos os dias acrescentam algo de novo e cada vez mais belo.

Termino dirigindo-me aos jovens que lerem isto. Lembro-vos apenas que se há um curador, é porque há doenças que precisam de ser curadas. Há feridas que têm de ser cuidadas antes que infetem. São tantas hoje as depressões, as incompreensões, os dramas existenciais, os abismos, enfim, tantas doenças que por vezes se apegam e alastram na vida. Tenho somente uma sugestão para tudo isso. Trata-se completamente de “you got one shot”: Dêem espaço ao Espírito Santo. Ele foi-nos dado, porque não deixá-Lo entrar? Mas dêem também tempo. As feridas não saram com a rapidez que gostaríamos e as mais profundas demoram ainda mais. Mas, sim, Ele cura.


Diogo Martinho,
in Voz de Lamego, ano 88/49, n.º 4486, 20 de novembro de 2018

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