Previous Next

Ordenação Sacerdotal


O NOSSO SÍTIO É JESUS

1. Aí tens, meu irmão Carlos Tiago Torres, escolhido pelo dedo de Deus para o ministério dos Presbíteros; aí tens, amado irmão, diante dos teus olhos e dos teus passos, os primeiros traços com que Lucas começa a desenhar, no Capítulo X do seu Evangelho, a figura do discípulo de Jesus. É sabido que Lucas dedica o Capítulo X do seu Evangelho à produção e exposição do retrato do discípulo de Jesus. E fá-lo, compondo um tríptico, três notáveis quadros, que vão ser expostos diante dos nossos olhos, hoje e nos próximos dois Domingos. Eis o catálogo: primeiro quadro: o envio dos 72 discípulos em missão (vv. 1-20); segundo quadro: o bom samaritano (vv. 25-37); terceiro quadro: Maria sentada aos pés de Jesus (vv. 38-42).

2. Apresentado o catálogo, passemos de imediato à contemplação do primeiro quadro: os 72 discípulos ENVIADOS em missão por Jesus. Note-se que, imediatamente antes, no princípio do Capítulo anterior, em Lucas 9,1-6, Jesus tinha ENVIADO em missão os Doze Apóstolos, cujos nomes são bem conhecidos. O ENVIO dos 72 discípulos que hoje se apresenta diante de nós, em Lucas 10,1-20, é um exclusivo de Lucas, e constitui um verdadeiro ápice, vincando bem a qualidade missionária deste Evangelho, que faz missionários, não apenas os Doze bem identificados, mas também os 72 discípulos, de quem ignoramos a identidade, o momento da sua partida em missão e a duração da mesma. Uma bela forma de dizer que nestes 72 se contam todos os discípulos de Jesus! Sem equívocos então: ser cristão ou discípulo de Jesus é ser missionário. Ser missionário não é uma segunda vocação, facultativa, uma espécie de adorno ou adereço que pode apor-se apenas a alguns cristãos, como denunciava bem o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii gaudium [2013], n.º 273. Sempre sem equívocos: SER CRISTÃO É SER MISSIONÁRIO! É viver intensamente de Jesus e com Jesus, e partir, sair de si, para levar Jesus ao coração dos nossos irmãos. A grande Apóstola das ruas de Ivry, nos subúrbios de Paris, a Venerável Serva de Deus Madeleine Delbrêl (1904-1964) dizia as coisas assim, de maneira contundente, como evangélicas facas de dois gumes: «A missão não é facultativa. Os meios descrentes [e indiferentes] em que vivemos impõem-nos uma escolha: MISSÃO OU DEMISSÃO CRISTÃ!».

3. Caríssimos fiéis leigos, meus irmãos no Batismo, caríssimos irmãos no sacerdócio, caríssimo Eleito, meu irmão Carlos Tiago Torres. É urgente a missão! Somos todos enviados por Jesus, leves e livres, com causas, e sem coisas: «Ide! (…). Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias» (Lucas 10,4a), despojamento impensável para um viajante daquele tempo e daquele espaço geográfico do Médio Oriente. O que é necessário entender é que, na bagagem de um discípulo de Jesus, não há lugar senão para o Evangelho! É urgente a missão. Portanto, diz Jesus: «Não saudeis ninguém pelo caminho» (Lucas 10,4b). Não saudar ninguém pelo caminho é uma proibição impraticável no meio social do Médio Oriente! Mas semelhante interdição faz vir ao de cima a extrema urgência e a prioridade absoluta que a missão do Evangelho requer de nós. De todos nós. Fica claro, mesmo à frente dos nossos olhos, que a urgência do anúncio do Evangelho é mais forte do que quaisquer usos e costumes e metodologias. O objetivo único é chegar quanto antes ao coração das pessoas, a quem devemos entregar o Evangelho de Cristo. Na sua viagem Apostólica entre nós em 2010, no dia 14 de maio, na Homilia da Santa Missa na Avenida dos Aliados, no Porto, o Papa Bento XVI disse-o assim: «Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão». E acrescentou este singular desabafo: «Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto».

4. Amados irmãos e irmãs no Batismo, meus irmãos no sacerdócio, caríssimo Eleito, lembremo-nos sempre que Jesus nos envia para um trabalho de Alegria. Por isso, deixa-nos esta indicação e oração exemplar: «A SEARA (therismós) é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da SEARA (therismós) que mande trabalhadores para a sua SEARA (therismós)» (Lucas 10,2). O termo grego para dizer SEARA, no Evangelho, é sempre therismós, que tem sempre a ver com a CEIFA, e nunca com a sementeira. Sim, em termos bíblicos, a sementeira é um tempo de lágrimas, mas a CEIFA é um tempo de ALEGRIA e MÚSICA! Diz o Salmo 126: «Vão andando e chorando, levando as sementes; ao voltar, vêm cantando, trazendo braçados de espigas» (Salmo 126,6). Fica então claro que o tempo do discípulo de Jesus é o tempo da CEIFA, e o seu modo é a ALEGRIA!

5. Talvez, caríssimo Eleito, tenha sido a ALEGRIA que te fez revisitar e trazer mais para junto de ti «El Cristo de la sonrisa» como teu companheiro de todos os dias. Sabes, com certeza, que El Cristo de la sonrisa, que se encontra no Castelo de Xavier, em Navarra, foi o verdadeiro companheiro de Francisco Xavier (1506-1552). Nos anos da sua infância e adolescência, todos os dias El Cristo de la sonrisa contemplava Xavier, e Xavier o contemplava a Ele. Nasceu daí uma luminosa cumplicidade entre os dois, que Xavier conservou durante toda a sua vida. São, de facto, muitas as testemunhas que descrevem Xavier «com a boca cheia de riso e da graça de Deus» (Monumenta Xaveriana, tomo 2, Madrid, 1912, pp. 291 e 306).

6. Caríssimo Eleito, amados irmãos no sacerdócio, caríssimos irmãos e irmãs: «Alegrai-vos sempre,/ rezai sem cessar,/ em tudo dai graças» (1 Tessalonicenses 5,16-18). Caríssimo Eleito, parte com Alegria para a CEIFA. Confia como um filho! Ama como uma mãe ou um pai! E não te esqueças nunca que o teu sítio é Jesus! Amém.

 

Lamego, 06 de julho de 2025, Dia do Senhor e de Ordenação Sacerdotal
+ António, vosso bispo e irmão

A acontecer...

Pesquisar

Redes Sociais

Fale Connosco

  254 612 147

  curia@diocese-lamego.pt

  Rua das Cortes nº2, 5100-132 Lamego.

Contacte-nos

Rua das Cortes, n2, 5100-132 Lamego

 254 612 147

 curia@diocese-lamego.pt

 254 612 147