Entre os quatro pilares ou proximidades (a Deus, ao Bispo e ao Povo) que dão solidez à vida sacerdotal, o Papa Francisco coloca, também, a amizade, o convívio sacerdotal. Dizia ele que o Convívio sacerdotal quebra a tentação do fechamento, da autojustificação e de fazer uma vida de solteirão. O convívio permite administrar as tensões e desequilíbrios com que temos de lidar todos os dias. O Convívio gera valores de respeito, compreensão, tolerância e solidariedade.
Razão tem o salmista (Sal. 133) cantar: “Quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unum” – como é belo, como é agradável que os irmãos vivam unidos”
O convívio sacerdotal tem sido uma das preocupações que os nossos arciprestes têm promovido nas reuniões mensais.
No primeiro sábado de cada mês, a reunião prolonga-se no restaurante, em alegre convívio e, se houve algum aniversário naquele mês, festeja-se alegremente. Também se combinam permutas de serviço interparoquial.
A última reunião realiza-se fora de portas. Este ano descemos à Régua, visitamos o Museu do Douro e, depois de refrescarmos as gargantas, subimos ao monte de São Leonardo conduzidos por um motorista de exceção, o P. Jorge Henriques, nosso arcipreste. Lá chegados, fomos ciceroneados pelo poema de Miguel Torga:
“À proa dum navio de penedos.
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando.
São Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Ancorado e feliz no cais humano,
E num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais Divino”.
Torga convidou-nos a olhar para a deslumbrante paisagem do Douro vinhateiro:
“É um excesso da natureza!
Socalcos que são passadas de homens titânicos, a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão”. Lá, no fundo, a perder de vista, os navios cruzeiros carregadinhos de turistas, lavram o rio num sobe e desce constante.
Chegada a hora de afagar o estômago que já tocava o alarme, com o amém de todos, abancamos no restaurante local para um delicioso convívio.
P. Justino Lopes, in Voz de Lamego, ano 95/34, n.º 4810, de 9 de julho 2025