UMA PANDEMIA, UM DESAFIO À SOLIDARIEDADE

«Somos ondas do mesmo mar, folhas da mesma árvore, flores do mesmo jardim» – frases que acompanharam a recente oferta de máscaras protetoras da China à Itália.
Foi o mundo inteiro surpreendido pela difusão do vírus Covid-19 a uma escala que muitos considerariam inimaginável nos tempos de hoje, de tão benéficos progressos científicos.

Parecemos regressados a outros tempos, os das pestes medievais ou das epidemias de há cem anos. Este facto faz-nos refletir na ilusão a que nos conduz o excesso de confiança nas capacidades humanas e na ciência. O ser humano continua a ser vulnerável diante da doença e da morte e deve reconhecer humildemente essa sua vulnerabilidade.

Mas outras importantes lições se podem colher deste surpreendente fenómeno.
A necessidade de reduzir a mobilidade para prevenir e evitar a difusão do vírus faz-nos descobrir como muitas das nossas deslocações (desde logo, as aéreas) não são verdadeiramente indispensáveis, ou mesmo necessárias.

Distinguir o necessário do supérfluo é algo de salutar, não só para este efeito sanitário, mas para outros, como o da salvaguarda do ambiente.
Diante desta pandemia, gostaríamos de destacar, sobretudo, o que ela representa como desafio à solidariedade social. Só nesse espírito ela poderá ser vencida.
A solidariedade é, na visão da doutrina social da Igreja, «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos somos verdadeiramente responsáveis por todos» (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 193).

Uma pandemia faz correr o risco de ver no outro uma ameaça, alguém que nos pode contaminar. Há o risco de que prevaleça a mentalidade do “salve-se quem puder”, ou “cada um por si”. Também há o perigo do reforço da xenofobia, quando se encara o estrangeiro como potencial transmissor.
Pelo contrário, o combate à pandemia exige uma consciência mais apurada do bem comum. Só unidos poderemos superar o desafio.

Dizem os especialistas (e revela-o a experiência dos países mais gravemente atingidos) que o coronavírus não causa na maioria das pessoas infetadas, individualmente consideradas, danos acentuados, mas o seu maior perigo situa-se numa perspetiva comunitária, de saúde pública: pela sua rápida difusão, por atingir grupos particularmente vulneráveis e por exigir dos serviços de saúde recursos que poderão superar as suas disponibilidades (como se está a verificar em Itália).
Impõe-se, por isso, superar uma mentalidade individualista.

Não há que pensar apenas nos perigos que corro, que serão maiores ou menores, mas nos riscos que correm outros, as pessoas mais vulneráveis. Não há que pensar tanto na contaminação de que eu possa ser vítima, mas na contaminação que eu, sem o saber, possa provocar noutros.

É a consciência do bem comum que nos leva a ter em conta a repercussão social de cada nosso comportamento, por mais insignificante que possa parecer. Há que pensar no que sucederia se o meu comportamento se generalizasse, no bem, ou no mal, que decorreria dessa generalização. Pensar desse modo faz toda a diferença.

Há que dar todo o apoio aos grupos mais vulneráveis, como os idosos, evitando de todos os modos que eles tenham que se expor a riscos (fazendo compras por eles, por exemplo). Que um dos efeitos desta pandemia seja o reforço da consciência coletiva de que somos todos diferentes, que muitos são mais pobres e necessitados do amor do próximo, ou seja, carentes de cada um de nós.

E há que dar todo o apoio aos profissionais de saúde, que nesta difícil situação se entregam sem reservas à sua tão nobre missão.
Em tempo de Quaresma, tempo de travessia do deserto para chegarmos à Luz da Ressurreição, forçados a uma quarentena “solidária” que exige de nós um profundo respeito pelos outros – mas em que a natureza humana pode revelar o seu melhor..., ou o seu pior… – rezemos, na privacidade das nossas famílias ou na solidão das nossas casas, ou mesmo dos nossos “quartos”:
«Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á» (Mt 6-7). Que Deus que nos «vê [desse] lugar oculto» nos ilumine e nos conceda o dom da fortaleza para que encontremos novas formas de vida neste mundo que é a nossa casa…
Pelas vítimas desta pandemia, pelos grupos que mais riscos correm e pelos profissionais de saúde, os membros da Comissão Nacional Justiça e Paz dirigem a Deus as suas orações.


Lisboa, 16 de março de 2020
A Comissão Nacional Justiça e Paz

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