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À conversa com o Diácono Diogo Martinho, futuro sacerdote de Lamego

No próximo domingo, 7 de julho, será ordenado Sacerdote o Diácono Diogo Martinho, em celebração presidida por D. António Couto, nosso Bispo, na Sé de Lamego, pelas 16h00. Em vista a prepararmos esta celebração e a melhor conhecermos o próximo sacerdote da nossa diocese, fica um breve diálogo, focado na descoberta da vocação, na análise dos desafios que se colocam aos sacerdotes, em particular, e à Igreja, no conjunto dos seus batizados.

Voz de Lamego: Diogo, tendo que te dares a conhecer, que dirias aos nossos leitores?
Diogo: Diria que o meu nome é Diogo e que sou natural de Cotelo. Dos meus 25 anos, 10 foram passados em seminário, os últimos meses em estágio diaconal e que, no dia 7, vou ser ordenado padre. Gosto de futsal, de rap e de literatura.

Voz de Lamego: Como chegaste aqui, desde a descoberta da vocação até à decisão?
Diogo: Cheguei até aqui na tentativa de seguir Jesus e fazer como ele fez e faz. A vocação, não fui eu que a descobri, felizmente. Foi ela que me descobriu... ainda antes de eu ter nascido, mas muito através a minha mãe, com uma ida ao antigo seminário menor em Resende para ser ministra da comunhão. Ao longo dos 10 anos que estive a viver em comunidade de semanário, coube-me a mim dar espaço Àquele que me chama... esvaziando-me de mim, enchendo-me d’Ele. A decisão final vai acontecendo na medida em que mais me deixo conduzir pela Sua Graça ou não.

Voz de Lamego: O que pesou mais na decisão de avançar para o sacerdócio e quais as perguntas que te fizeste?
Diogo: O que mais pesou foi, de facto, perceber que sou necessário como discípulo e discípulo ministro. Isso vai acontecendo ao longo dos dias, ao conjugar as necessidades expressas pelo Povo de Deus com a minha vontade em fazer a Sua Vontade. De todas as perguntas que me fui fazendo (e que continuo a fazer), a que mais facilmente as resume é aquela que Paulo faz ao Senhor: “que queres que eu faça?”.

Voz de Lamego: Como tem sido o teu estágio pastoral?
Diogo: O estágio pastoral nas paróquias do padre Carlos e do padre Chico tem sido de uma fecundíssima aprendizagem. Não só dia a dia, mas quase de hora a hora. No fundo, o maior rasgo de luz que ali me está a ser dado experimentar, trata-se de eu deixar de ser aquele que olha para a realidade diocesana, para passar a ser aquele que vê a realidade diocesana. Ver como Jesus viu a viúva de Naím, para depois poder fazer algo novo, tal como ele fez ao tocar o caixão do seu único filho.

Voz de Lamego: Quais são os maiores desafios para um padre nos dias que correm? E para a Igreja?
Diogo: Posso pecar por simplismo, mas parece-me que os dias que correm não são muito diferentes dos dias que sempre correram. Temos muitíssimas mais acessibilidades, fragmentações de saberes, multiculturalismo, internet em 5G, etc... mas, no fundo, o drama e a miséria humana continuam exatamente os mesmos. Desde Adão a Caím, desde Abraão a Moisés. No fundo, quais são as minhas referências. Que é que eu anuncio. Se anuncio o meu reino, no qual eu reino. Se anuncio reino de Deus, no qual eu reino. Ou se anuncio o reino de Deus, no qual Ele reina. Se nós, Igreja, formos capazes de mostrar claramente que anunciamos o reino de Deus, no qual Ele reina, 95% dos problemas de desinteresse e agnosticismo, que hoje são um enorme entrave à evangelização, ficarão resolvidos.

Voz de Lamego: Situando-nos sobretudo na nossa diocese de Lamego, as maiores dificuldades e as maiores potencialidades que se encontram nas paróquias para onde somos enviados?
Diogo: Na nossa diocese, atualmente, temos o dever de nos ajudarmos uns aos outros a passar do que ainda resta de um paradigma eclesial de corte real, onde o Padre é a paróquia, para um outro de sinodalidade e cristocêntrico. Esse é um grande desafio. Movidos pelo Espírito Santo, veremos o caminho. A grande potencialidade que encontramos neste nosso terreno é, a meu ver, a grande genuinidade que, por enquanto, o Povo de Deus mantém. Um Povo que se sabe húmus, pela grande quantidade de doentes e idosos que alberga. Um Povo que sabe semear e espera o dom. Um Povo paciente com os seus pastores. Um Povo que, naturalmente, caminha, e que quase sempre está disposto a deixar-se guiar.

Voz de Lamego: Uma palavra para os nossos seminaristas e para aqueles que ponderam entrar no Seminário?
Diogo: Há uns anos atrás, quando se pedia uma palavra para os seminaristas, estava-se a pedir uma palavra para dezenas de pessoas, o que tornava esse ato mais fácil e impessoal. Contudo, neste momento, temos, nos dois ciclos de formação, 7 seminaristas. Conheço-os muitíssimo bem a todos (e não conheço grades prendas). Não tenho dúvidas, em nenhum dos 7, que estão a ser chamados. O que lhes deixo é um desafio: não queirais, nunca, ter o total controlo da ação de Deus em vós ou no Povo. “Se compreendes totalmente, não é de Deus”, dizia alguém. Não é por acaso que, no Antigo Testamento, a figura de Deus se assemelha a uma nuvem. Ninguém abarca uma nuvem. A nuvem, essa sim, poderá envolver, suavemente, alguém. Depois de experimentardes isso, amigos, será mais fácil serdes profetas. Àqueles que ponderam entrar no seminário... “vinde e vede”.

Voz de Lamego: Qual o lema que escolheste para a tua ordenação e vida sacerdotal e porquê?
Diogo: “Para que se alegrem juntamente o que semeia e o que ceifa” (Jo 4, 36) A principal razão que me levou a escolher este lema foi a sequência na qual ele está inserido. O quarto capítulo de João foi-se destacando, durante o meu tempo de seminário, na maneira como me mostrava o agir de Jesus. Principalmente, o episódio da samaritana junto ao poço é, para mim, eloquentíssimo. Não me canso de o revistar. Logo de seguida aparecem os discípulos com questões parvas (tipo nós). Então Jesus recorda-lhes que os enviou “a ceifar o que não cultivaram”, mas não sem antes lhes dizer que tudo isso é “para que se alegrem juntamente o que semeia e o que ceifa”. No momento da escolha, ao surgir esta frase, imediatamente associei, também, ao meu lema de ordenação diaconal (Ele cura os corações despedaçados e cuida dos seus sofrimentos), como uma espécie de conclusão para ele. Portanto, Ele cura, em função da alegria. Sem outras intenções. Ele (Jesus) que se dá em semente, que se deixa colher e que nos mostra como o fazer. Será a isto que me quero aproximar enquanto Padre, cada vez mais configurado com Jesus na prática da Vontade do Pai.



in Voz de Lamego, ano 89/30, n.º 4517, 2 de julho de 2019



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