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Homilia de D. Jacinto Botelho, Bispo Emérito de Lamego, na Solenidade de São Sebastião

A Solenidade de S. Sebastião, Padroeiro principal da nossa Diocese, é o motivo que nos reúne na Catedral, Igreja Mãe de Lamego, em Assembleia Eucarística a celebrar com júbilo e com alma o grande mártir do fim do séc. III ou do início do sec. IV.

O momento que vivemos da celebração da eucaristia é a expressão mais perfeita desta realidade, numa sentida comunhão com o nosso Bispo, o Senhor D. António Couto, a quem uma forte constipação impede que esteja presente, e por quem rezamos, e a quem felicitamos pelo sétimo aniversário, em 29 de janeiro, da sua entrada na diocese. O nosso Bispo é sempre o princípio e o fundamento da unidade nesta Igreja de Lamego.

Como ele nos adverte na Carta Pastoral Anunciar o Evangelho é a Vocação Própria da Igreja, a apresentar o Plano Pastoral para 2018-1019, Igreja chamada e enviada: “Quando olhamos à volta e verificamos que vivemos hoje num mundo em ritmo acelerado de paganização que se faz ver em todos os palcos da sociedade, a começar pela família, pela escola e pelos mass-media, e que suga também, como de potente íman se tratasse, os que até agora se diziam cristãos e que como tal viviam”, queremos sentir-nos e ser conscientemente Igreja de Lamego, em comunhão com toda a Igreja em Portugal”, determinada a trilhar os mesmos rumos de evangelização e que como continua a dizer-nos o nosso bispo nos mostra como “é preciso e é urgente lançar desde já, mãos e pés, inteligência, entranhas e coração a uma nova vaga de evangelização, para a qual são precisos novos evangelizadores.”

O Papa Francisco aponta com frequência, para a dimensão comunitária da vivência cristã, uma das expressões mais relevantes do seu sumo pontificado, que mobiliza a todos, bem manifesta na Exortação apostólica, A Alegria do Evangelho: “O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A acção pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais. Enquanto no mundo se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos a «carregar as cargas uns dos outros». […] Um sinal claro da autenticidade dos carismas é a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmoniosamente na vida do povo santo de Deus para o bem de todos.” Que a celebração do Dia do Padroeiro nos comprometa comunitária e responsavelmente.

Detenhamo-nos agora no exemplo de S. Sebastião e na Palavra proclamada. O testemunho do jovem oficial romano é uma lição de extrema actualidade. Num tempo tão apodado de corrupção e de mentira, a autenticidade e desassombro deste mártir por antonomásia – não é o mártir a sua designação popularmente utilizada? – não podem deixar ninguém apático ou indiferente. Tanto o texto de S. Pedro, como o do Evangelho, são coincidentes numa afirmação que palavras diferentes traduzem: A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens, também Eu Me declararei por ele diante de Meu Pai que está nos Céus, proclamou Jesus, como ouvimos no escrito de S. Mateus. Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder, a quem quer que seja, sobre a razão da nossa esperança, mas seja com brandura e respeito, como recomendou S. Pedro na leitura de há momentos. A brandura e o respeito que o primeiro Papa nos recomenda, pressupõem sempre «uma boa consciência, para que sejam confundidos os que dizem mal do bom procedimento em Cristo». Não pode, de modo algum, esse conselho de serenidade e de paz, justificar atitudes de ambiguidade, de contemporização perante o mal, injustiças, vilipêndio dos direitos fundamentais da pessoa, dos quais nunca podemos abdicar.

Porque mais que a palavra, o sangue também prega, - assim rezámos no Hino das primeiras Vésperas - o comportamento de S. Sebastião que, não obstante o sofrimento crudelíssimo do martírio, estava inabalavelmente crente da Palavra que ouvimos na primeira leitura, as almas dos justos estão na mão de Deus e nenhum tormento os atingirá, e que não temeu os que matam o corpo, mas não podem matar a alma, está diante de nós a afirmar com a vida a exigência de fidelidade plena de esperança à nossa vocação de cristãos.
Porventura pior que o medo da morte, é o receio que leva tantos a ocultar por cobardia a sua identidade religiosa ou as suas convicções. Não querem comprometer-se com posições públicas que deviam assumir com frontalidade, em nome da verdade e da justiça, e mantêm-se, comodamente e covardemente passivos, numa falsa e preguiçosa imparcialidade, permissiva e demolidora.
A frontalidade manifesta-se também no cumprimento correcto e corajoso dos deveres cívicos ou religiosos, colocando os valores essenciais acima de quaisquer interesses pessoais ou partidários.
Acresce ainda uma outra circunstância que estamos a viver, até ao próximo dia 25, Festa da conversão de São Paulo: O Oitavário de oração a pedir a unidade dos cristãos este ano subordinado ao tema: Procurai ser verdadeiramente justos, proposto pela Igreja da Indonésia que preparou os guiões da sua celebração. O diálogo ecuménico tão reclamado nesta circunstância, não é concessão arbitrária ou equiparação das várias religiões.

Mais de 50 anos após o Concílio Vaticano II, marcado também por esta preocupação pastoral, vale a pena recordar a sua mensagem: “Não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior”. E ainda: “Lembrem-se todos os fiéis cristãos de que tanto melhor promoverão e realizarão a unidade dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida segundo o Evangelho. Quanto mais unidos viverem em comunhão estreita com o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, tanto mais íntima e facilmente conseguirão aumentar a fraternidade cristã.” Não será por causa desta exigência que o Papa Francisco fala de ecumenismo de sangue? Recordemos uma palavra sua de há dois dias na abertura do Oitavário na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, que, como tantas outras que pronuncia, queima como fogo e que aqui deixo como estímulo a que vivamos mais empenhados como cristãos: “Quando a sociedade deixou de ter como fundamento o princípio da solidariedade e do bem comum, assistimos ao escândalo de pessoas na extrema miséria, ao lado de arranha-céus, albergues imponentes e luxuosos centros comerciais, símbolos de uma desenfreada riqueza. Esquecemo-nos da sabedoria da lei mosaica, segundo a qual, se a riqueza não é partilhada, divide-se a sociedade.”

O dia 20 de janeiro tem para mim também um especial significado. Há 23 anos, num dia muito frio e com neve, neste mesmo lugar, pela imposição das mãos, do Senhor Arcebispo Primaz de Braga, D. Eurico, e dos outros Bispos presentes, eu recebia a plenitude do sacerdócio que me agregou ao Colégio Apostólico. 4 anos depois, no Jubileu do Ano 2000, no mesmo dia, era tornada pública a minha nomeação pelo Santo Padre S. João Paulo II para Bispo de Lamego. Momento propício para repetir com igual disponibilidade, humildade e gratidão: Ecce, Fiat, Magnificat. Agradeço sensibilizado a amizade que também me manifestais com a vossa participação nestes santos mistérios.
Sob a proteção de Nossa Senhora dos Remédios, e pela intercessão de S. Sebastião, nosso padroeiro, rezemos como há momentos na Colecta para que todos nós, cristãos lamecenses, obtenhamos o espírito de fortaleza, e a exemplo deste mártir, aprendamos a obedecer antes a Deus que aos homens. Ámen.



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