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Procissão de Triunfo como Património Imaterial Português

A Ex.ma Dra. Maria Antónia de Castro Athayde Amaral, Chefe da Divisão do Cadastro, Inventário de Classificação, deslocou--se a Lamego, em representação do Presidente do Património Cultural, Instituto Público, Dr. João Soalheiro, para participar na Romaria de Portugal e assinalar a classificação da Procissão de Triunfo como Património Imaterial Português. No final da celebração eucarística em honra de Nossa Senhora dos Remédios, dirigiu belíssimas palavras alusivas ao evento e que agora aqui queremos verter (na íntegra) em jeito de reconhecimento, gratidão e memória.

Exmo. Reverendíssimo Senhor D. António Couto, Bispo da Diocese de Lamego,
Exmo. Senhor Presidente da Real Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, Cónego Filipe Pereira,
Exmo. Senhor Reitor do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Padre João Teixeira,
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego, Eng.º Francisco Lopes
Exmo. Senhor Vereador das Atividades Económicas e Urbanismo, Dr. José Correia da Silva
Demais entidades aqui presentes, minhas senhoras e meus senhores:

É com profundo respeito e sincera gratidão que me dirijo a Vossas Excelências nesta ocasião tão significativa, que une fé, tradição e identidade cultural da cidade de Lamego.
A Procissão do Triunfo, é, sem dúvida, um notável exemplo de Património Imaterial português que se enquadra no domínio das Práticas sociais, rituais e eventos festivos de carácter religioso e na categoria das Festividades cíclicas e rituais coletivos.
É essencialmente uma manifestação de carácter religioso, com raízes ancestrais que remontam aos séculos XIV e XV, associadas ao culto a Sto. Estevão – que deu o nome ao monte do santuário -, e a outros cultos dedicados a Nossa Senhora dos Remédios celebrados, contudo, noutras datas e com outras características.
O culto de Nossa Senhora dos Remédios é o culto por excelência da Cidade de Lamego e do seu Bispado, mas abre-se, de forma ecuménica, a todos – crentes e não crentes – habitantes das localidades vizinhas, de todos os pontos do país e até do estrangeiro. É, como referiu Aníbal Cabral, no seu poema, aberta a todos os que “vêm de longe e de mais longe ainda”.
O culto e a procissão são “fiéis repositórios de alquimia lamecense” onde o sagrado se entrelaça com a vida quotidiana, política e social, como bem lembrou o capelão do santuário. Lamego vai inteira na procissão – a Padroeira e os seus protetores, as principais entidades civis e militares, todos os habitantes da cidade e até animais.
É uma extraordinária manifestação identitária que, para além do seu significado religioso, reforça os laços comunitários, promove a identidade cultural e incentiva a solidariedade, alinhando-se com a mensagem de comunhão e partilha de Cristo.
E não é por acaso que a Procissão se celebra em setembro, quando a região se prepara para aquela que é a maior “safra agrícola” da região do Douro e das Beiras: as vindimas. Este momento representa o fim de um ciclo natural e o início de um outro. É, se quisermos, a celebração da fé, do tempo e do triunfo do homem sobre uma natureza agreste que moldou com esforço e cuja marca no território replica e continua aquela que foi reconhecida como uma das paisagens mais extraordinárias do mundo - O Alto Douro Vinhateiro – uma Paisagem evolutiva e viva – inscrita, em 2001, como Património da Humanidade.
A preservação do património imaterial associado a este território assenta na transmissão deste e de outros legados às gerações vindouras e exige compromissos concretos por parte das comunidades, instituições e sociedade em geral.
Em primeiro lugar, é fundamental reconhecer que essa transmissão do Património Cultural Imaterial é, acima de tudo, um processo comunitário.

A transmissão pode (e deve) ocorrer por via formal, na educação institucional – seria importante incluir o património imaterial nos curricula das escolas, do ensino básico ao ensino universitário. Mas é na via informal, especialmente nos contextos familiares, religiosos e sociais que o conhecimento é transmitido de forma vivida, espontânea e autêntica, formando aquilo a que podemos chamar "raízes" — as memórias e os sentimentos comuns que moldam e preservam o enraizamento cultural das práticas no seio das sociedades.
É na partilha de significados, histórias e valores associados às manifestações culturais que acontece a construção de uma dimensão simbólica essencial ao reforço da identidade coletiva e do sentido de pertença das comunidades.
Importa sublinhar, também, a importância da transmissão intergeracional. A passagem de saberes, das vivências, dos sentimentos e das práticas associadas à vida espiritual, entre gerações, é crucial para a sobrevivência das manifestações do Património Cultural Imaterial e constitui uma das suas características mais distintivas. Mas não basta garantir a passagem do legado, é indispensável que as manifestações continuem a ser praticadas no seu contexto original e comunitário, assegurando a sua vitalidade como património vivo.
O Património Cultural, Instituto Público reconheceu a extraordinária importância desta manifestação religiosa através da inscrição da Procissão de Triunfo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), publicitada em Diário da República, a 04 de abril de 2025, no Anúncio n.º 103/2025.

Destacou:
• A importância da Procissão do Triunfo enquanto prática religiosa identitária da comunidade de Lamego e dos concelhos vizinhos, integrada nas Festas em Honra de Nossa Senhora dos Remédios;
• Os processos sociais e culturais que deram origem a esta manifestação, registados documentalmente no século XIX, mas com raízes em cultos religiosos praticados nesta região desde o século XIV;
• As dinâmicas atuais da manifestação e os modos em que se processa a sua transmissão que reforçam os vínculos entre gerações.

Não queríamos terminar sem uma palavra de gratidão à comunidade de Lamego, a quem pertence o mérito da Procissão do Triunfo ou de Nossa Senhora dos Remédios se manter viva.
Por isso queremos saudar todos os que estiveram envolvidos na candidatura:
O Ex.mo Presidente da Real Irmandade, Cónego Filipe Pereira, o Reitor do Santuário, Pe. João Teixeira, o investigador e historiador local que deu corpo a esta candidatura, Dr. Fernando Cabral, o Kim Cabral que registou fotograficamente e em vídeo todos os momentos da procissão; e todos os lamecenses que generosamente partilharam connosco as suas vivências.
Estendemos, igualmente, o nosso reconhecimento a todos os que desempenharam um papel relevante na preservação e salvaguarda desta manifestação, nomeadamente, ao Município de Lamego, ao Centro de Tropas e Operações Especiais, ao Sr. Padre Albano Cardoso, ao Sr. Manuel Canelas e à dedicada equipa de carpinteiros, e a todas e todos que tornaram possível, com o seu trabalho voluntário, que a Procissão acontecesse hoje, dia 8 de setembro de 2025.
Por fim, uma palavra de especial saudação a todos os presentes e sobretudo a todos os participantes, com destaque para o figurado vivo, que dá vida e alma à procissão.

Maria Antónia de Castro Athayde Amaral
Chefe da Divisão do Cadastro, Inventário de Classificação, em representação do Presidente do Património Cultural, Instituo Público, Dr. João Soalheiro.

 

in Voz de Lamego, ano 95/41, n.º 4818, de 10 de setembro de 2025

 

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