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Diácono Tiago Torres - Entrevista

Tiago é natural de Lamego, da paróquia da Sé. Concluiu o Seminário e vai ser ordenado diácono, em ordem ao presbiterado, no próximo dia 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição. Atualmente é o responsável pelo Departamento Diocesano da Pastoral Juvenil. Para ficarmos a conhecê-lo um pouco melhor, conversamos com ele, colocando algumas questões.

Voz de Lamego: Tendo que te apresentar, que dirias aos nossos diocesanos?
Tiago Torres: Sou o Tiago Torres, tenho 29 anos, nasci em Lamego e aí vivi até aos 18 anos. Nessa altura mudei-me para o Porto, para estudar engenharia. Cresci no Grupo de Jovens da Sé, sou conviva e fiz parte da equipa do DDPJ desde 2016. No último ano de curso, após um período de discernimento, decidi entrar no seminário em 2018. Vivi estes últimos 6 anos no Seminário Interdiocesano de São José, em Braga. Atualmente vivo na Beselga, onde estou a fazer o estágio pastoral.

Voz de Lamego: Como chegaste aqui, desde a descoberta da vocação até à decisão?
Tiago Torres: A descoberta da minha vocação vem na sequência do caminho de fé que fui trilhando desde criança, embora só muito tarde a questão vocacional se tenha colocado realmente. Vivi um conjunto de experiências marcantes que me fizeram dar um passo fundamental: da fé que recebi dos meus pais e da comunidade paroquial, chegar à relação pessoal e íntima com o Senhor Jesus. A JMJ Madrid 2011 é um primeiro marco inesquecível, mas a experiência que me abalou desde o mais profundo e que acabou por transformar tudo, sem eu o poder saber na altura, foi o Convívio Fraterno. Tinha 20 anos, estudava engenharia e senti nesses três dias com uma clareza para lá de qualquer dúvida que o próprio Senhor me olhou e pediu que lhe desse lugar na minha vida inteira e não só nos meus tempos livres. A resposta a esse apelo fez-me entregar mais de mim na Igreja, desde logo nos Convívios Fraternos, na paróquia e também na pastoral juvenil diocesana. Fez-me, acima de tudo, descobrir a necessidade vital da oração. É nesse espaço de intimidade, que fui abrindo e alargando no meu dia-a-dia, que a questão da vocação aparece e permanece, por mais que eu achasse que não fazia sentido. O tempo, a oração e o acompanhamento fizeram-me perceber que o que estava a viver vinha mesmo de Deus e, a partir daí, não havia como recusar.

Voz de Lamego: O que pesou mais na decisão de avançar para o sacerdócio e quais as perguntas que te fizeste?
Tiago Torres: Começo pelos obstáculos. Quando a possibilidade de ser padre entra no meu horizonte estava a pouco mais de um ano de terminar o meu curso. A ideia de deixar para trás o caminho que tinha escolhido, e no qual me sentia francamente satisfeito e realizado, assustava-me. Nunca fui de grandes riscos ou de decisões dramáticas. Tudo na minha vida até então ia de acordo com o planeado em cada momento. Assustava-me a ideia de estudar mais seis anos, o facto de, na verdade, não conhecer propriamente a realidade do seminário e, no fundo, aquele receio de me vir a arrepender e ter de voltar para trás.
Obstáculos grandes, cheios de lógica e de sentido e segundo os quais eu não deveria ter entrado para o seminário. E, contudo, no silêncio e na oração, não era capaz de pensar noutra coisa. A alegria e a paz que passaram a acompanhar a possibilidade do sacerdócio já eram minhas conhecidas. Eram o sinal da consolação do Espírito Santo. Diante disto, não há lógicas nem argumentos que resistam.

Voz de Lamego: Quais são os maiores desafios para um jovem que está a caminho do sacerdócio? E para a Igreja?
Tiago Torres: O desafio essencial e que está na raiz de todos os outros é permanecer unido à videira, que é Cristo. Cada pessoa, invariavelmente, vai encontrar obstáculos no caminho, dos mais variados: a exigência da entrega, o desejo de constituir família, as dificuldades da vida em comunidade, as dúvidas, o cansaço e por aí fora. Se a vocação vem de Deus, corresponde ao desejo mais profundo do nosso coração. Então, se temos uma vida de oração viva, de verdadeiro encontro com Jesus, sofremos na mesma como toda a gente, temos momentos de dificuldade como toda a gente, mas estamos sempre seguros no Único que nos pode sustentar. Podem parecer palavras bonitas e vazias, mas quem já o viveu na carne, sabe que é verdade.
Para a Igreja, por mais que mudem os tempos, o desafio é sempre o mesmo: testemunhar, testemunhar, testemunhar. Dar a conhecer este rosto de Jesus que nos olha e chama, ajudar mais e mais pessoas a encontrá-l’O e a viver o Evangelho. Só desse encontro podem brotar as vocações, todas elas. Sem isto, é como tentar construir uma casa pelo telhado.

Voz de Lamego: Situando-nos sobretudo na nossa diocese de Lamego, as maiores dificuldades e as maiores potencialidades que se encontram nas nossas comunidades?
Tiago Torres: Creio que a maior dificuldade está ligada à desertificação e envelhecimento do interior. A nível da pastoral juvenil, o facto de os nossos jovens, na sua maioria, se verem obrigados a abandonar a terra de origem para prosseguir estudos superiores ou procurar emprego gera uma série de desafios para o tipo de pastoral que se pode levar a cabo. Vejo nisto, também, uma potencialidade - desde logo, a liberdade dos números. Já não esperamos grandes multidões, porque em boa parte dos nossos contextos já não existem, o que nos pode libertar para uma pastoral de tu-a-tu, um acompanhamento mais pessoal e próximo.
Por outro lado, temos uma massa humana de uma generosidade e entrega impressionantes. Um sentido ainda muito apurado da ligação às raízes, umas raízes alimentadas há séculos pela fé, o que dá uma base fecunda para fazer frutificar o Evangelho.

Voz de Lamego: Como têm sido os primeiros tempos no DDPJ de Lamego? Além desta responsabilidade que outros compromissos tens ou virás a ter depois da ordenação diaconal?
Tiago Torres: É uma missão desafiante, mas na qual tenho encontrado uma grande alegria, principalmente pela enorme generosidade dos nossos jovens. O primeiro passo foi formar uma equipa, com 16 jovens de todos os arciprestados da nossa diocese, e que têm mostrado uma capacidade de entrega, disponibilidade, criatividade e alegria que me deixam francamente mais descansado hoje, do que no dia em que recebi esta missão. Depois recebemos também o convite para acolher o próximo Rejoice, o encontro nacional da juventude, em Lamego. Um desafio inesperado, mas acredito que será muito bom para os nossos jovens e as nossas comunidades. Por agora, estamos a dedicar-nos a preparar a vivência do Jubileu, a peregrinação a Roma para o Jubileu dos Jovens, e um itinerário a que chamámos “Âncora”, que estreámos em Castro Daire no passado dia 23 e que queremos que seja uma oportunidade para ajudar os jovens, grupos e movimentos a saborear melhor este ano especial de graça.
Quanto a outros compromissos, continuo a colaborar com os Convívios Fraternos e estou a viver o meu estágio pastoral com o P. Carlos Carvalho e o P. Francisco Marques nas paróquias de Sernancelhe, Sarzeda, Seixo, Beselga, Antas, Prova e Aveloso.

Voz de Lamego: Uma palavra para os nossos seminaristas e para aqueles que ponderam entrar no Seminário?
Tiago Torres: Para os nossos seminaristas, meus irmãos, a primeira palavra é sempre de agradecimento. A vida comunitária, com todas as dificuldades e dores que também pode ter, é uma verdadeira graça. Conheço bem cada um deles e vejo em cada um o que mais importa: o sinal de um coração tocado por Jesus Cristo.
Para quem possa estar a ponderar a entrada no seminário, uma frase que uma vez me disseram e que descobri como é verdadeira - “Deus não se deixa vencer em generosidade.” O salto pode parecer grande, os obstáculos demasiados: a nós só compete aceitar o que o Senhor põe no nosso coração e confiar que, quando nos damos, Ele dá-Se infinitamente mais.

Voz de Lamego: Qual o lema que escolheste para a tua ordenação diaconal e porquê?
Tiago Torres: Escolhi como lema as palavras que o Senhor, na cruz, dirigiu a Nossa Senhora e São João: “Mulher, eis o teu filho. Eis a tua Mãe.” (Jo 19, 26-27) Sinto-as como a expressão mais adequada daquilo que vou viver a partir do dia 8. Não só pelo facto de ser o dia da Imaculada Conceição, mas também por todo o significado desse momento de entrega mútua entre a Virgem Maria e São João, pelas mãos de Jesus. No momento da absoluta entrega de Jesus por amor, a Mãe de Deus “estava de pé”, junto à cruz, perfeitamente unida ao sacrifício do Filho. É o ícone perfeito da Igreja como Mãe. São João, o discípulo amado, que não pode senão seguir o seu Senhor até ao fim, vê-se confiado à Mãe, e a Mãe confiada a si, até chegar a participar dessa entrega por inteiro. Também eu quero, com todo este caminho percorrido, com a ordenação diaconal e com os dias que me forem dados viver, ocupar o meu lugar nessa entrega. Pôr-me nas mãos de Maria, as mãos da Igreja, para aprender a oferecer-me como Jesus.

 

in Voz de Lamego, ano 95/4, n.º 4781, de 4 de dezembro de 2024.

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