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Apresentação do livro “A História de Lamego em documentos: a Cidade e o Aro”.

No dia 25 de setembro, sábado, foi apresentado, no Centro Paroquial de Almacave, o novo livro do Pe. Joaquim Correia Duarte, “A História de Lamego em Documentos – A Cidade e o Aro”. A edição é do Município de Lamego. O autor, além dos trabalhos pastorais, tem-se dedicado à investigação e à escrita. Desde 2007, é membro da Academia Portuguesa de História. Tem outros títulos importantes como a “História da Igreja de Lamego”, publicado em 2013, e que lhe valeu um prémio da Academia de História.

Marcaram presença na apresentação pública do livro, o Dr. Ângelo Moura, Presidente da Câmara Municipal de Lamego; José Rodrigues Lourenço, Presidente da Assembleia Municipal de Lamego; Prof. Dra. Manuela Mendonça, Presidente da Academia Portuguesa da História; Prof. Dra. Alegria Marques, Académica de Número da mesma Academia e Professora Catedrática da Universidade de Coimbra; membros da Assembleia Municipal; Vereadores da Câmara; Presidentes de Junta das Freguesias do Concelho de Lamego; Presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal de Resende; Párocos das paróquias da Cidade e do Aro, e muitas outras pessoas.

Conduziu e moderou a apresentação o responsável do Gabinete das Comunicações Sociais do Município de Lamego, Ricardo Pereira.

A primeira intervenção coube à Dra. Alegria Marques, que apresentou a obra e o trabalho sério e competente do seu autor. Prosseguiu o próprio autor, do qual deixamos algumas passagens:
“Não sendo eu natural de Lamego nem tendo aqui residência, só há uma explicação razoável: a minha simpatia e gratidão pela cidade. Efetivamente, tendo passado aqui o melhor tempo da minha juventude, no Seminário, conheço e admiro a Sé e o Castelo – os dois núcleos históricos da cidade - com as suas ruas e ruelas, quase como conheço e estimo a minha casa e a minha aldeia. Foi esta a primeira cidade que eu conheci, nos meus longínquos onze anos, e foi também aqui que vi o primeiro automóvel”.

Não esqueço aquele teimoso e grande sino da Sé que dava horas toda a noite e não nos deixava dormir. Nem os toques de clarim, a horas certas, no quartel de Santa Cruz. Nem o barulho das cornetas, dos bombos e das botas dos tropas quando, altas horas da noite, transitavam de Santa Cruz para a baixa da cidade, e nos passavam à porta. Nem os pregões das peixeiras e os gritos dos vendedores de jornais, pela manhã, na praça da catedral. Nem os ‘Vivas ao Benfica’ saídos da voz embriagada do «Chiça», figura típica da cidade, nas noites de Domingo, quer o clube ganhasse quer perdesse. Nem o ‘Abel dos Pausinhos’ a gritar em frente do Café Maia, o único café de então:  – ‘Águas, Coluna e Cavém… e não quero mais ninguém’! Nem as colheres de pau que usávamos sob as capas, preparadas para castigar algum insulto atrevido que viesse do lado, e magoasse o nosso brio de estudantes, no género de ‘sacos de carvão’… Nem os piropos furtivos que alguns de nós trocavam com as meninas azuis do colégio da Imaculada Conceição, quando, contra a vontade dos superiores, elas adregavam a passar por nós, do outro lado da estrada. Nem os bilhetinhos que, escondidos no chapéu dum professor que dava aulas nos dois lados, iam e vinham do seminário e do colégio.

Lembro as tasquinhas e as adegas da urbe, os tugúrios onde levávamos semanalmente uns pãezitos que não comíamos para os darmos aos pobres, e umas senhas de compras para reduzirmos a sua pobreza; e também as Caves da Raposeira onde íamos ao menos uma vez por ano, aos grupos, conhecer e admirar as caves, dizendo sempre que era a primeira vez, para termos o raríssimo gosto de beber uma tacita de champanhe e o prazer especial de sentir o gaz a sair pelo nariz.

Recordo, com saudade a senhora Lousadinha da rua dos Loureiros. Na sua casinha de rés-do chão, mesmo à beira dos janelões manuelinos das nossas camaratas, cuidava de criancinhas, falava com as flores e cantava com os pássaros. Era ela que em horas furtivas, em silêncio perigoso, através de uns cordéis que subiam e desciam, nos fazia chegar pelas ditas janelas uns macitos de cigarros e umas bebidas para as tainadas.

Só nos dizia, preocupada: - Que ninguém saiba, meninos!
Uma joia de senhora. Muito nossa amiga”.

No final da sua intervenção, os agradecimentos a tantos que contribuíram para esta obra, mas também todos os que partilham da sua vida e da sua alegria, a começar por Aquele “que dá sentido a toda a minha vida e com Quem conto em todas as minhas horas”. A propósito, o autor lembrou a história sobre a imagem do Crucificado que permanece no Salão Nobre da Câmara de Lamego: “Preparando-se os funcionários da Câmara para retirar o Crucifixo depois de terem retirado os retratos do Presidente da República e do Primeiro Ministro do regime caído [em 1974], o presidente da Comissão Administrativa, Dr. Manuel Cardoso, conhecido por todos como ateu ou agnóstico, gritou alvoroçado: - Esse, não, rapazes! Esse não! Esse, é de sempre!”

Prosseguiram os agradecimentos: “às duas irmãs que de mim cuidam, dia após dia… e também aos meus sobrinhos que nunca faltam na hora certa; aos meus colegas sacerdotes que se dignaram estar presentes, aos senhores párocos de Almacave que nos cederam este belo e amplo espaço cultural, e aos meus conterrâneos e amigos, de Resende e de Lamego, que me tornaram feliz por terem vindo.

Depois, aos senhores presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal de Resende que tiveram a gentileza de acompanhar este seu pequeno munícipe.

Em seguida, à senhora Prof. Alegria Marques que, depois de rever e melhorar todo o texto, se dignou enriquecer o trabalho com um precioso texto introdutório e vir aqui, de tão longe e com enorme sacrifício, deliciar-nos com a sua magistral apresentação.

Ao Sr. Pe. Hermínio Lopes, que lhe fez um belo rosto, lhe tratou do miolo e colocou em produção…
Depois, aos senhores autarcas do município de Lamego, ao senhor presidente Dr. Ângelo Moura, pelo seu “imprimatur” e pelo prefácio que escreveu e muito valorizou a obra.

Por último, cumpro o grato dever de agradecer a Sua Excelência, a senhora Prof. Dra. Manuela Mendonça, Ilustríssima Presidente da Academia Portuguesa da História que, mais uma vez, e já é a terceira, veio de Lisboa, de propósito, para honrar e sublimar este ato com a sua presença e com seu alto patrocínio”.

Intervieram, de seguida, a Prof. Dra. Manuela Mendonça, em nome da Academia de História, e o Dr. Ângelo Moura, Presidente do Município que assumiu a edição desta obra, contribuindo para o enriquecimento cultural e acervo histórico da cidade de Lamego.


in Voz de Lamego, ano 91/44, n.º 4626, 29 de setembro de 2021




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