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Homilia de D. António Couto no Dia da Igreja Catedral e da Ordenação Diaconal


É HORA DE DEDICAÇÃO, AMOR E SERVIÇO

1. A nossa amada Igreja de Lamego assinala hoje a Dedicação desta Casa-mãe a Deus, nosso Pai, a quem foi solenemente entregue há 243 anos, a 20 de novembro de 1776, após a realização de diversos lanços de obras. Mas já antes, desde tempos bem remotos, aqui se reuniam os seus filhos, aqui se dedicavam e entregavam a Deus, à escuta da sua Palavra, à fração do pão, à comunhão e à oração, de acordo com a beleza espelhada no rosto da Igreja-mãe de Jerusalém, retratada no Livro dos Atos dos Apóstolos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-15). Dedicação implica sempre também purificação e iluminação, sentido novo e divino para a nossa vida. Neste contexto, apraz-me lembrar que os nossos irmãos hebreus fiéis estão desde ontem e durante os próximos oito dias a celebrar a festa da Dedicação do Templo de Jerusalém, que lembra a purificação levada a efeito por Judas Macabeu, no ano 164 a.C., após a paganização aí operada pela fação grega selêucida da Síria. Símbolo maior desta festa é o candelabro de oito braços, em que as luzes dos oito braços não se acendem todas de uma vez, mas uma por dia, num crescendo de luz que atinge o seu esplendor ao oitavo dia. E este candelabro e este crescendo de luz não é para alumiar dentro do Templo ou dentro de casa. É para alumiar cá fora ou lá fora, para fazer luz, mais luz, mais luz, mais luz, no escuro religioso, social, político, comercial e cultural que nos envolve.

2. Exulta, pois, Igreja de Lamego, mas lembra-te sempre que a Dedicação desta Casa-mãe a Deus, nosso Pai, reclama também de ti, hoje e sempre, dia após dia, a tua plena Dedicação a Deus e aos irmãos, crentes e não crentes. Por isso, aqui estamos hoje, festivamente reunidos como filhos e irmãos, como nos pede e nos manda o nosso plano pastoral, em modo de sínodo, em modo de peregrinação, em modo de oração, em modo de comunhão, em modo de participação, em modo de conciliação, em modo de irmão, para celebrar com a Igreja inteira a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

3. Acresce ainda à torrente festiva que hoje nos envolve, também a Ordenação Diaconal do Eleito Marco Cardoso, oriundo da comunidade paroquial de São Martinho de Fornelos, e que tem exercido e vai continuar a exercer a sua ação pastoral, com esmerada dedicação, sobretudo nas comunidades paroquiais de São Tiago de Piães e de São Cristóvão de Nogueira. A sua ação pastoral alarga-se, porém, a toda a zona pastoral de Cinfães.

4. A cena central deste Dia imenso, que guia e fixa o olhar atento do nosso coração, é Hoje, como bem sabemos, ocupada pelo Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, entronizado na Cruz, que nos preside e nos precede sempre. Sim, Ele é o Primeiro; em tudo Ele tem o Primeiro lugar; é d’Ele que recebemos toda a plenitude, conforme a bela lição de Hoje do hino cristológico incrustado na Carta de São Paulo aos Colossenses 1,15-20. 

5. Com os olhos fixos no nosso Rei, entronizado na Cruz, não desligamos dela os ouvidos, que devem estar sempre sintonizados com «a palavra da Cruz», como ousa dizer São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios 1,18. Entra-nos então pelos ouvidos um tema por três vezes repetido e martelado: «Salva-te a ti mesmo!» (Lucas 23,35.37.39), saído sucessivamente da boca dos chefes, dos soldados, de um dos malfeitores crucificado com Jesus. Os chefes veem um falso deus, os soldados um falso rei, o malfeitor um falso messias. Tudo ídolos que vamos usando a nosso bel-prazer, sem sequer repararmos nisso. O outro malfeitor crucificado com Jesus é o primeiro teólogo da Cruz. Não interroga aquela Cruz; deixa-se interrogar por ela. E avança um pedido imenso: «Jesus, lembra-te de mim quando vieres com o teu Reino!» (Lucas 23,42). De notar que estas palavras imensas, que devíamos repetir muitas vezes, são cantadas pelo povo no momento da Comunhão, no Rito grego. E Jesus responde, para imenso espanto nosso: «Hoje estarás comigo no paraíso» (Lucas 23,43). Aos sarcásticos interrogadores da Cruz, que dizem o que dizem zombando de Jesus, Jesus não deu qualquer resposta. Mas a este pedido, Jesus respondeu com um imenso Sim e com este Hoje, que nos entala no tempo e que ouvimos ecoar por oito vezes (oito luzes!) no Evangelho de Lucas (2,11; 4,21; 5,26; 19,5; 19,9; 22,34; 22,61; 23,43).

6. Vale a pena, neste momento, dar a palavra a um dos grandes pregadores dos primeiros séculos cristãos, São João Crisóstomo (349-407), Bispo de Constantinopla e Doutor da Igreja. Disse ele e deixou luminosamente escrito: «Este ladrão roubou o paraíso. Ninguém antes dele ouviu uma promessa semelhante: nem Abraão nem Isaac nem Jacob nem Moisés nem os profetas nem os apóstolos. O ladrão entrou à frente deles todos. Mas também a sua fé ultrapassou a deles. Ele viu Jesus atormentado, e adorou-o como se estivesse na glória. Viu-o pregado a uma cruz, e suplicou-lhe como se o tivesse visto no trono. Viu-o condenado, e pediu-lhe uma graça como se faz a um rei. Ó admirável malfeitor! Viste um homem crucificado, e proclamaste-o Deus!».

7. Bem sabes, caríssimo Eleito Marco, que o teu modelo e a tua referência de vida é este Senhor Jesus, que é o Amor em pessoa, que veio para o meio de nós, para nos servir e nos salvar. Bem sabes também, em consequência, que a «tua missão é ajudar o Bispo e o seu presbitério no serviço da Palavra, do Altar e da Caridade» (Pontifical Romano, Ordenação dos Diáconos, n.º 227), e que o teu distintivo é o Evangelho de Cristo que hoje vais solenemente receber, e que tens a missão de proclamar, acreditar, ensinar e viver (Pontifical Romano, Ordenação dos Diáconos, n.º 238).

8. Caríssimo Marco, Eleito para a Ordem dos Diáconos, aí tens a missão bela e boa que, em nome do nosso Rei e Senhor, hoje te confio. E a todos peço que acompanhemos agora na oração este Eleito. Ámen.




Lamego, 24 de novembro de 2019,
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

+ António, vosso bispo e irmão

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