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POR UM AMOR MAIOR - Homilia Corpo de Deus

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

1. A Igreja celebra Hoje, jubilosamente, a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. E, pela página intensa e bela do Evangelho deste Dia grande (Marcos 14,12-16.22-26), começam os seus discípulos, e começamos nós também, por nos dirigirmos a Jesus para que Ele nos diga «onde» e «como» preparar a sua Ceia. Sim, amados irmãos e irmãs, só Ele sabe «onde», só Ele sabe «como». E ainda assim, entendamos bem, nós apenas podemos fazer os preparativos. A Festa é com Ele. O Pão e o Vinho, o seu Corpo e Sangue, só os podemos receber d’Ele. E é quanto admiravelmente continuamos a fazer ainda Hoje. Ele é o Bem, Ele é a Bondade, Ele é a Beleza. E a celebração da Ceia Eucarística é e será sempre o Bem elevado à máxima potência, que atravessa e empapa a nossa vida toda, e nos tem de pôr necessariamente a dizer Bem, pensar Bem, querer Bem, fazer Bem. É encher de Bem, de Bondade e de Beleza a nossa vida. É assim que estamos unidos a Deus e aos irmãos. O Bem une e reúne. O mal divide separa.
 

2. «Se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança […], sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa» (Êxodo 19,5-6), propõe o próprio Deus, por intermédio de Moisés, ao povo de Israel, chegado HOJE, e HOJE acampado no sopé do Sinai (Êxodo 19,1-2). Como nos propõe HOJE a nós, acampados em Lamego. A proposta-promessa de Deus, de transformar Israel num povo todo sacerdotal e santo, é condicional: se escutardes a minha voz, se guardardes a minha aliança… Considerada atentamente a proposta-promessa de Deus, o povo de Israel responde que «sim», resposta unânime e sem hesitação, afirmando sob palavra de honra: «Tudo o que o Senhor falou, nós o faremos» (Êxodo 19,8). Este «faremos» do povo aparece consolidado mais à frente, na lição do Livro do Êxodo que hoje tivemos a graça de ler e de escutar, em que o povo afirma por duas vezes: «Faremos todas as Palavras que o Senhor falou» (Êxodo 24,3 e 7).

 
3. O povo compromete-se a fazer as Palavras do Senhor, e Deus cumpre logo aí a sua proposta-promessa de fazer de Israel um povo todo sacerdotal e santo. O texto bíblico do Livro do Êxodo que nos foi dada a graça de ler e de escutar, mostra, de forma admirável, a realização da promessa de Deus, pondo diante dos nossos olhos, primeiro os jovens (Êxodo 24,3), e depois os anciãos (Êxodo 24,9-11), a oficiar e presidir ao culto. Os jovens e os anciãos de Israel, os jovens e os velhos de Israel: aí está uma forma muito bíblica de dizer a totalidade de Israel, um Israel todo sacerdotal. Pouco depois, sempre com um modo de dizer muito bíblico, sela-se a aliança entre Deus e o seu povo. O sangue dos novilhos imolados é recolhido em bacias. Metade desse sangue é derramado sobre o altar, que simboliza Deus (Êxodo 24,6); a outra metade é destinada a aspergir o povo de Israel (Êxodo 24,8). É visível que Deus e o povo de Israel participam, então, do mesmo sangue. Participar do mesmo sangue é igual a fazer parte da mesma família. É uma maneira fortíssima de mostrar e vincar a fidelidade e a familiaridade que se estabelece entre Deus e o seu povo, entre Deus e nós, Hoje aqui reunidos, caríssimos irmãos e irmãs, jovens e velhinhos.

 
4. Temos Hoje a graça, sentimos Hoje a graça, em forma de calafrio, de dedicar a Deus este novo Altar desta Igreja Catedral da nossa Diocese de Lamego. O altar é de xisto róseo, como muito do chão que Deus nos deu. As figurações deixam ver uma videira, tronco, ramos, folhas, cachos de uvas, bagos, com certeza o elemento que melhor caracteriza o nosso Douro vinhateiro. Mas a videira leva-nos também diretamente a Jesus Cristo, Senhor Nosso, que disse: «Eu sou a videira» (João 15,1 e 5), e a si nos associou, acrescentando: «Vós sois os ramos» (João 15,5). E com mais força ainda, disse daquele cálice com vinho: «Este é o meu sangue, o sangue da Aliança, por vós todos derramado» (Marcos 14,24). E acrescentou: «Fazei isto em memória de mim» (Lucas 22,19). Vida partida, repartida e dada por amor. Eis o inteiro programa de Jesus, a nós igualmente por inteiro confiado. Eis tudo o que devemos fazer, imitando-o eucaristicamente. Só o bem, pensado, querido, dito, feito, une e reúne eucaristicamente. O mal divide e separa sempre. Divide a comunidade e separa-nos de Deus. Celebrar a Eucaristia, unidos e reunidos à volta deste Altar, que é imagem de Cristo Ressuscitado, é sempre um fazer novo e belo, que tem de imprimir mais amor e beleza aos nossos afazeres quotidianos.

 
5. Este Altar é a imagem de Cristo Ressuscitado no meio dos seus irmãos. Por isso, na Dedicação deste Altar, que não é mais uma pedra, mas uma Pessoa, vamos cantar as Ladainhas, invocando a presença de todos os Santos, que de Cristo Ressuscitado recebem a sua vida. Vamos depois Ungir este Altar, este Cristo, com o óleo perfumado do Crisma, pois é Ele a fonte do óleo perfumado do Crisma com que são ungidos os batizados, os crismados, os sacerdotes, os bispos, todo o povo de Deus, todo sacerdotal e santo. Queimaremos depois sobre este Altar incenso, que como uma nuvem subirá como suave perfume até Deus, representando a entrega eucarística total do Filho, e n’Ele e com Ele, a nossa oração e ação de graças a transbordar de Amor. Seguir-se-á o revestimento com a toalha branca, veste branca, cor divina, as luzes e as flores, que traduzem a nossa vida toda iluminada e vestida de Festa, desde o nosso Batismo. Tudo culmina com a celebração da Eucaristia, impressão e expressão maior desta Dedicação e deste Dia Grande em que a Igreja inteira se reúne para celebrar a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

 
6. Por fim, e no fim, levaremos como de costume, em procissão de fé, este caudal de Amor, que a todos nos envolve, pelas ruas da nossa cidade de Lamego. É assim que o pálio (pallium) de Deus atravessará a nossa cidade. O pálio de Deus é o manto (pallium) de Deus, os braços carinhosos com que nos abraça e nos envolve, e nos pede para fazermos outro tanto, agasalhando de ternura todos os nossos irmãos e irmãs que mais necessidade têm de um apertado abraço humano e divino.

 
7. Não nos esqueçamos que é de «pálio», deste «pálio», deste manto de afeto e ternura, que derivam os muito falados cuidados «paliativos», que não são apenas os cuidados médicos apropriados a minorar as dores dos nossos doentes terminais ou em estado crítico; são também, e talvez sobretudo, a expressão de um amor maior, de um imenso abraço que acalente e dê sentido à vida de quem nasce, de quem vive, de quem sofre e de quem morre. Dissemos há dois dias atrás «não» à eutanásia, por um punhado de votos de diferença, in extremis conquistados. Deixai, amados irmãos e irmãs, que vos abra o coração. Este «não» alegra-me e deve alegrar todos aqueles que lutam e velam pela vida humana com pleno sentido desde o nascimento até à morte. Mas sinto bem que este «não» me compromete e nos tem de comprometer muito mais, pois todos sabemos que há irmãos e irmãs nossos que continuam a viver e morrer numa cama ou num canto qualquer, em completo abandono. Temos de aprender a viver sempre in extremis, no limite que é ao mesmo tempo limiar, no que a amor, carinho e sentido diz respeito, e procurar estar sempre lá, cada vez mais lá, onde sabemos que a vida dói mais.

 


Lamego, 31 de maio de 2018
Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e Dedicação do Novo Altar da Igreja Catedral

+ António Couto

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