Solenidade de São Sebastião – Homilia de D. António Couto

1.    A nossa Igreja de Lamego está hoje em festa. A razão é porque celebramos hoje o nosso Padroeiro principal, São Sebastião, de quem recebemos a implorada e desejada proteção e a suprema lição, que não passa por um sermão, mas pela doação da própria vida. A nós, que aqui nos reunimos hoje, interessa-nos saber que foi Jesus Cristo a sua verdadeira razão de viver… e de morrer. Foi intensa a sua LUZ, imenso e notório o seu TESTEMUNHO no meio da cidade ensonada e coroada pelos ídolos frívolos.

2. No meio da cidade pestilenta e decadente, São Sebastião representa uma fonte de vida. Há a cidade dormente e sonolenta. E há, em contraponto, a cidade alumiada e atenta, que não se pode esconder sobre um monte. Não se pode apagar o horizonte. Não se acende uma LUZ para a colocar debaixo da ponte. De qualquer lugar se via, em qualquer lugar se via, que Sebastião trazia Cristo a arder no coração. Não o escondia. Por isso, o imperador romano, Diocleciano, quis fazer desaparecer este soldado de Cristo. Por isso, o fez morrer na grande perseguição que desencadeou contra os cristãos nos primeiros anos do século IV. O tirano, Diocleciano, fez o que podia fazer. Mas era pouco e tarde demais. Mandou quebrar o frasco cheio de perfume. Mas não se apercebeu que, ao quebrar-se o frasco, se soltaria o perfume, que nem o estrume de Roma podia apagar. E foi assim que o perfume intenso daquele amor imenso se espalhou por Roma e pelo mundo inteiro. Já sabemos que chegou também a Lamego esse cheiro intenso e perfumado, que sanava a fome, a peste e a guerra, mas também o frio, e sobretudo o vazio do coração e da alma, a descrença e a indiferença, a maior doença que corrói a sociedade.

3. Acorda, Lamego, não tenhas medo! Coragem! Tem confiança! Ele chama-te! E diz-te, na página do Evangelho de hoje (Mateus 10,28-33), que vales mais do que muitos passarinhos. Se Deus, nosso Pai, cuida da vida dos passarinhos, que não semeiam nem ceifam, com quanto mais carinhos cuidará de nós, seus filhos queridos! Como a vida do Mártir São Sebastião, também a nossa está segura nas mãos de Deus (cf. Sabedoria 3,1), tão segura que está mesmo tatuada nas palmas das mãos de Deus (cf. Isaías 49,16). Como a dos sete jovens irmãos Macabeus e a do velhinho Eleazar, de 90 anos, como nos mostra hoje a história edificante e exemplar do Segundo Livro dos Macabeus, Capítulos 6 e 7. Portanto, levanta-te, Lamego, Igreja amada e desposada, acariciada, não abandonada (cf. Isaías 62).

4. Levanta-te e vai com os passarinhos, que não semeiam nem ceifam, mas voam e cantam os louvores do nosso Pai, que está nos Céus. Levanta-te e vai com São Sebastião, e enche este mundo de perfume e de unção, de oração e de paixão. Enche este chão bendito de estradas de Jericó, onde passa o próprio Deus, e se debruça sobre o teu pó, e o levanta e o beija.

5. Levanta-te e vai e ama e enche este mundo de bem e de Jesus. Dá tu também, e volta a dar, dá sempre, em cada casa, em cada rua, em cada canto, em cada estrada de Jericó, dá «a razão» (ho lógos) da tua esperança. São Pedro, na sua lição de hoje, interpela-nos a estar sempre prontos, atentos, preparados para dar a quem nos pedir o pão da esperança ou a razão da esperança que há em nós (lógon [perì] tês [en hymîn] elpídos) (cf. 1 Pedro 3,15). O pão e a razão (lógos) são dados concretos, não teóricos e abstratos. A razão (lógos) não é aqui um terreno intelectual ou um objeto do pensamento, uma amálgama de arrazoados, mas uma pessoa: Jesus Cristo. É Ele a razão, o Lógos, que era no principio, agora e sempre (cf. João 1,1-2), Filho de Deus e de Maria, «feito Homem como nós, e que no meio de nós veio habitar» (cf. João 1,14), «pelo qual tudo foi feito, e sem Ele nada foi feito» (João 1,3). Portanto, sem Ele, não haveria passarinhos, nem São Sebastião, nem eu nem tu, minha irmã, meu irmão.

6. É Jesus que São Sebastião, nosso Padroeiro, nos entrega hoje outra vez. Não para o guardarmos em alguma gaveta ou cofre-forte. Mas para o entregarmos generosamente aos nossos irmãos. Quando se celebra um mártir, não sobra lugar para o acidental, o marginal, o acessório. Um mártir não tem adereços. É Jesus que São Sebastião tem nos olhos e no coração. É Jesus a sua «razão» de viver. É Jesus a sua herança. É Jesus a sua esperança. Como quem diz: é Jesus a nossa herança. É Jesus a nossa esperança.

7. Jovem soldado, jovem mártir, São Sebastião, ensina a tua Igreja de Lamego, que proteges com heroica dedicação, a estar sempre pronta, preparada, diligente, para sabermos dar a quem nos pede «a razão» da nossa esperança, para sabermos dar Jesus aos nossos irmãos que no-lo pedem. A tua missão, Sebastião, é ser clarão, entregar a luz de Jesus a cada irmão. Se é a tua missão, é então também a nossa missão nestas estradas de Jericó, em que diariamente nos cruzamos uns com os outros, e onde diariamente soa o mandamento do rosto nu do pobre, por quem tudo posso e a quem tudo devo. Igreja amada de Lamego, «vai, pois, e faz tu também do mesmo modo!».


Lamego, 20 de janeiro de 2018, Solenidade de São Sebastião, Padroeiro principal da nossa Diocese

+ António, vosso bispo e irmão

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