É HORA DE DEDICAÇÃO, AMOR E SERVIÇO
Rev.mos Senhores Vigários Gerais
Rev.mos Sacerdotes e Diáconos
Caríssimo Eleito para a Ordem dos Diáconos, Tiago Samuel
Caríssimos Familiares do Eleito
Caríssimos Seminaristas
Caríssimos Irmãos e Irmãs Batizados e Crismados em Cristo Jesus
1. A nossa amada Igreja de Lamego assinalou no passado dia 20 do corrente mês de Novembro a efeméride da última Dedicação desta Casa-mãe a Deus, nosso Pai, a quem foi solenemente entregue há 249 anos, a 20 de novembro de 1776, após a realização de diversos lanços de obras. Entrámos assim no ano jubilar que assinala os 250 anos da última Dedicação da nossa Catedral, que celebraremos solenemente no dia 20 de novembro do próximo ano 2026. Mas já antes, desde tempos bem remotos, desde meados do séc. XII, aqui se reuniam os seus filhos, aqui se dedicavam e entregavam a Deus, à escuta da sua Palavra, à fração do pão, à comunhão e à oração, de acordo com a beleza espelhada no rosto da Igreja-mãe de Jerusalém, retratada em três vagas sucessivas no Livro dos Atos dos Apóstolos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-15), e também na Dedicação, purificação e iluminação que teve lugar no inverno do ano 164 a.C., obra de Judas Macabeu e do povo fiel, que assim entregavam a Deus um Templo purificado após a profanação e paganização nele operada pela fação grega selêucida da Síria, liderada pelo tirano Antíoco IV Epifânio. Toda a Dedicação da Casa de Deus se opera para fazer Luz, para alumiar cá dentro, também dentro de nós, e lá fora, para fazer Luz, mais Luz, mais Luz, mais Luz, no escuro religioso, social, político, comercial e cultural que nos envolve.
2. Exulta, pois, Igreja de Lamego, mas lembra-te sempre que a Dedicação desta Casa-mãe a Deus, nosso Pai, reclama também de ti, hoje e sempre, dia após dia, a tua plena Dedicação a Deus e aos irmãos, crentes e não crentes. Por isso, aqui estamos Hoje, festivamente reunidos como filhos e irmãos, “sempre em construção e Dedicação”, como nos pede e nos manda o nosso plano pastoral, para celebrar Hoje com a Igreja inteira reunida a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
3. Acresce ainda à torrente festiva que Hoje nos envolve, também a Ordenação Diaconal do Eleito, Tiago Samuel, oriundo da comunidade paroquial de São Tiago de Piães, e que está a exercer o seu estágio pastoral nas paróquias das zonas pastorais de Sernancelhe, Penedono e Meda.
4. A cena central deste Dia imenso, que guia e fixa o olhar atento do nosso coração, é Hoje, como bem sabemos, ocupada pelo Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, entronizado na Cruz, que nos preside e nos precede sempre. Sim, Ele é o Primeiro; em tudo Ele tem o Primeiro lugar; é d’Ele que recebemos toda a plenitude, conforme a bela lição de Hoje do hino cristológico incrustado na Carta de São Paulo aos Colossenses 1,15-20.
5. Com os olhos fixos no nosso Rei, entronizado na Cruz, não desligamos dela os ouvidos, que devem estar sempre sintonizados com «a palavra da Cruz», como ousa dizer São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios 1,18. Entra-nos então pelos ouvidos um tema por três vezes repetido e martelado: «Salva-te a ti mesmo!» (Lucas 23,35.37.39), saído sucessivamente da boca dos chefes, dos soldados e de um dos malfeitores crucificado com Jesus. Os chefes veem um falso deus, os soldados um falso rei, o malfeitor um falso messias. Tudo ídolos que vamos usando a nosso bel-prazer, sem sequer repararmos nisso. O outro malfeitor crucificado com Jesus é o primeiro teólogo da Cruz. Não interroga aquela Cruz; deixa-se interrogar por ela. E avança um pedido imenso: «Jesus, lembra-te de mim quando vieres com o teu Reino!» (Lucas 23,42). De notar que estas palavras imensas, que devíamos repetir muitas vezes, são cantadas pelo povo no momento da Comunhão, na liturgia de Rito grego. E Jesus responde solenemente, para imenso espanto nosso: «Em verdade te digo: “Hoje estarás comigo no paraíso”» (Lucas 23,43). Aos sarcásticos interrogadores da Cruz, que dizem o que dizem [«Salva-te a ti mesmo»] zombando de Jesus, Jesus não deu qualquer resposta. Mas a este pedido [«Lembra-te de mim quando vieres com o teu Reino»], Jesus respondeu com um imenso Sim e com este Hoje, que nos entala no tempo e que ouvimos ecoar por onze vezes no Evangelho de Lucas (2,11; 4,21; 5,26; 12,28; 13,32; 13,33; 19,5; 19,9; 22,34; 22,61; 23,43).
6. Vale a pena, neste momento, dar a palavra a um dos grandes pregadores dos primeiros séculos cristãos, São João Crisóstomo (349-407), Bispo de Constantinopla e Doutor da Igreja. Disse ele e deixou luminosamente escrito: «Este ladrão roubou o paraíso. Ninguém antes dele ouviu uma promessa semelhante: nem Abraão nem Isaac nem Jacob nem Moisés nem os profetas nem os apóstolos. O ladrão entrou à frente deles todos. Mas também a sua fé ultrapassou a deles. Ele viu Jesus atormentado, e adorou-o como se estivesse na glória. Viu-o pregado a uma cruz, e suplicou-lhe como se o tivesse visto no trono. Viu-o condenado, e pediu-lhe uma graça como se faz a um rei. Ó admirável malfeitor! Viste um homem crucificado, e proclamaste-o Deus!».
7. Bem sabes, caríssimo Eleito, Tiago Samuel, que o teu modelo e a tua referência de vida [«Como Eu vos fiz, fazei vós também», que é o lema que escolheste] é este Senhor Jesus, entronizado na Cruz, que é o Amor em pessoa, que veio para o meio de nós, para nos servir e nos salvar. Não para se salvar a si mesmo. Bem sabes também, em consequência, caríssimo Eleito, que a «tua missão é ajudar o bispo e o presbitério no serviço da Palavra, do Altar e da Caridade» (Pontifical Romano, Ordenação dos Diáconos, n.º 227), e que o teu distintivo é o Evangelho de Cristo que hoje vais solenemente receber, e que tens a missão de proclamar, acreditar, ensinar e viver (Pontifical Romano, Ordenação dos Diáconos, n.º 238).
8. Caríssimo Tiago Samuel, Eleito para a Ordem dos Diáconos, aí tens a missão bela e boa que, em nome do nosso Rei e Senhor, Jesus Cristo, Hoje te é confiada. E a todos os meus irmãos e irmãs, presentes nesta Catedral, peço que acompanhemos agora com a nossa oração este Eleito. Ámen.
Lamego, 23 de novembro de 2025, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
+ António, vosso bispo e irmão



